Depois de uma jornada estafante de cinco horas de trabalho, logo, em
uma segunda-feira, em que o cansaço do descanso do final de semana confundia-se
com a ressaca. Nada melhor do que uma cerveja estupidamente gelada – daquelas
em que os pinguins estão abraçados de tanto frio. Entro no Bar da Dina, ali
atrás da Telma. Peço uma loura gelada e um caldo-de-cabeça de peixe, o melhor
da Ilha com certeza.
Posso fazer-lhe companhia?
Perguntou-me um homem de estatura mediana, deveria ter entre 35 a 40 anos de
idade, barba longa, já grisalha. Meu nome é Fernando Furtado Farias, presidente
do Sindicato dos Ladrões Autônomos do Maranhão. Acompanhamos a sua luta em prol
da organização de todas as categorias de trabalhadores através de sua coluna no
jornal. Nós realizamos um congresso, para criarmos o Sindicato – SLAM. Do
encontro, tiramos uma proposta reivindicatória. A categoria através de nossa
pessoa vem pedir ao Jornal NOTICIDADE que publique a pauta de reivindicação do
nosso movimento grevista, que começará depois de cumprirmos todas as
formalidades legais, porque caso o Tribunal Regional do Trabalho – TRT venha
julgar a greve, não a sentencie como ilegal ou abusiva, como está acontecendo
com quase todas as agitações de luta dos trabalhadores.
- Um momento! Você falou
sindicato e greve de ladrões?! Mas aqueles que roubam ou furtam trabalhadores!?
- Preste atenção a uma coisa. Nós
somos contra o roubo, porque é usado a violência; mas defendemos o furto, onde
você usa a destreza. No SLAM, não aceitamos a filiação de ladrão que porta arma
na execução de seu trabalho. O bom larápio usa a inteligência, é um trabalho
extremamente intelectual.
- Fernando Furtado, você acha que
subtrair algo de uma pessoa é trabalho? Mesmo sem usar uma arma para intimidar
o cidadão?
- Mas é claro. E se você está
pensando diferente, isso é uma forma de preconceito com quem quer ganhar a vida
honestamente. Acontece que em nosso País o preconceito é algo quase que
congênito – já nasce com o individuo. Agora, perguntamos é possível publicar o
fato do movimento paredista da categoria?
- Claro! O NOTICIDADE noticiará
com exclusividade. Fernando, o que motivou a criação do SLAM?
- A necessidade de organizar a
categoria e desenvolver uma consciência de classe
- Vocês não acham que isso é uma
afronta à sociedade?
- De jeito algum. Companheiro,
vamos analisar a situação de uma maneira dialética, ou seja, numa visão mais
geral, com o aumento substancial de ladrões, a comunidade pressiona o Estado
para combater a onda de furtos, consequentemente, haverá concurso para as
polícias civis e militar. O comercio em geral contrata serviços de empresas
especializadas em segurança. As lojas de armas esquentam suas vendas, abrem
filiais. Há necessidade de construção de novas casas de detenção. Mais
advogados trabalham. E o Estado ganha com isso; mais empregos, aumenta a
arrecadação de impostos e miniminiza a crise social.
- Então, o por que da greve?
- Na atual conjuntura está muito
difícil de desenvolvermos o nosso trabalho. As pessoas não querem mais usar
objetos de valor. A força policial está cada vez mais violenta com os nossos
trabalhadores. As residências e comércios estão impenetráveis. E assim não dá
para trabalhar. Nós temos família para sustentar. Interessante é como se
combate os ladrões das classes C, D e E. Os da A e B são até idolatrados, e o
que é mais engraçado, não são chamados de ladrão, e sim corruptos.
- Fernando, nós publicaremos, já
na edição de amanhã, esta entrevista. A pauta de reivindicação sairá no dia em
que for deflagrada a paralisação.
- Sabíamos que poderíamos contar
com esta visão progressista que tem a linha editorial do Noticidade.
- Companheiro, até amanhã.
Fernando Furtado estende
a mão direita para se despedir. Como estava segurando o copo de cerveja, o
cumprimentei com a esquerda. Ao chegar em casa, como de costume, beijo Eulália
– minha filha, em seguida, acaricio o rosto de minha mulher que dispara – onde
está tua aliança? Tu vais explicar esta história direitinho.
(Autor desconhecido .. quem souber o nome do autor por favor coloque nos comentários)
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